Uma coronel no sertão: transfigurações do feminino em A História de Bernarda Soledade, de Raimundo Carrero

Autores

  • Felipe Dantas da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • André Tessaro Pelinser Universidade Federal do Rio Grande do Norte http://orcid.org/0000-0001-9756-0116

DOI:

https://doi.org/10.13102/cl.v21i3.5874

Resumo

O regionalismo tem sido considerado por grande parte da crítica literária brasileira como uma manifestação de baixa qualidade artística. Esta visão negativa tem levado muitos escritores contemporâneos a rechaçar a vinculação ao rótulo, ainda que, em suas obras, encontrem-se representações do universo sertanejo com temas e imagens que se inserem numa tradição regionalista. Neste trabalho, analisa-se o romance A História de Bernarda Soledade – a tigre do sertão, de Raimundo Carrero, com atenção às representações do feminino e do coronelismo, tendo em vista a corrente literária regionalista. O exame é baseado na personagem Bernarda Soledade, que subverte as convenções sociais impostas pela sociedade e confere nova roupagem à representação do universo coronelista. Constata-se que, apesar da negação de Raimundo Carrero ao regionalismo, é possível encontrar na obra analisada a recorrência de índices que vêm sendo expressos ao longo da história literária brasileira e, portanto, se inserem numa tradição regional, mesmo que haja transfigurações no modo como estes elementos são representados.

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Biografia do Autor

André Tessaro Pelinser, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professor adjunto de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Publicado

2021-01-26

Como Citar

Dantas da Silva, F., & Pelinser, A. T. (2021). Uma coronel no sertão: transfigurações do feminino em A História de Bernarda Soledade, de Raimundo Carrero. A Cor Das Letras, 21(3), 48–60. https://doi.org/10.13102/cl.v21i3.5874

Edição

Seção

Dossiê: As histórias literárias ainda são possíveis?