Desmundo, de Ana Miranda: deslocamento e reconstrução ficcional da história do Brasil colonial por um olhar feminino
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v21i3.5881Resumo
Este artigo possui como foco de análise o romance Desmundo de Ana Miranda como proposta de diálogo entre Literatura e História a partir do olhar feminino e da experiência do deslocamento e suas representações. Desmundo transcende o mero registro factual para afirmar-se como criação artística, ao eleger como voz narrativa uma personagem feminina: Oribela de Mendo Curvo, uma órfã trazida juntamente com outras tantas infelizes para uma terra estranha, o Brasil Colonial. Sob essa perspectiva, o objetivo deste artigo é demonstrar que em Desmundo o deslocamento opera-se em dois eixos principais: o deslocamento enquanto trajeto, ou seja, a saída de Portugal e vinda para o Brasil Colônia e o deslocamento atrelado às vicissitudes do feminino como, por exemplo, o sentimento a que a personagem está submetida, assim como a sua forçosa subjugação enquanto mulher. Nesse sentido, na obra em foco a Oribela apresenta-se como o elemento orquestrador da construção do romance na medida em que sua voz é também a voz dos silenciados, visto que a história “oficial” é narrada por homens brancos. O romance desconstrói e reconfigura o discurso de Pero Vaz de Caminha, ao propor sua história como pano de fundo, no período do “achamento” da Índias, sendo a personagem central a cronista-mor do enredo que se constitui.
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