LUTA, NEGOCIAÇÃO E RESISTÊNCIA DA COMUNIDADE TUXÁ NO PROCESSO DE REASSENTAMENTO, ENTRE 1980-1990
DOI:
https://doi.org/10.13102/semic.v0i21.2331Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar o processo de desterritorialização da comunidade Tuxá, nação Proká Pragaga do Arco e Flecha e Maracá Malacutinga Tuá Deus do Ar. ocasionada pela instalação da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga. A aldeia Tuxá localizada em terra firme no município de Rodelas e a ilha de viúva na calha do rio são Francisco, espaços que desenvolviam sua base produtiva e as praticas ritualísticas foram completamente inundados.
Os Tuxá são remanescentes de povos aldeados da Missão de São João Batista de Rodelas, uma das últimas a serem extintas no século XIX, e que habitavam em média 25 ilhas localizadas nas imediações entre Chorochó e o Rio Pajeú. É na tradição e na sacralidade desenvolvida em relação simbiótica com o território, que se encontra o cerne da organização dessa comunidade. Atualmente, a comunidade é constituída de 214 famílias, cerca de 995 indivíduos, espacialmente estão distribuídos em Nova Rodelas e em fazendas próximas à cidade de Ibotirama e Inajá.
A usina hidrelétrica Luiz Gonzaga (antiga Itaparica) construída em 1979, foi dirigida e executada pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco- CHESF, com a justificativa de atender a demanda por energia dos polos industriais de Recife, Salvador e regiões circunvizinhas. A construção do reservatório em 1988 inundou cerca de 834,0 Km,² deslocando compulsoriamente mais de 40.000 pessoas, dentre eles 1.200 indígenas Tuxá, e segundo Salomão (2006), atingiu vários municípios, como Rodelas, Glória e Petrolândia-Pe, que foram inteiramente alagados.
A alteração espacial desse território gerou também mudanças sociais, atingindo de diferentes maneiras vários grupos humanos, englobando os Tuxá, o projeto gerou sérias implicações, como o processo de desterritorialização, sobreposição de duas reservas indígenas e o desmembramento do sistema de produção e organização que se reverbera até os dias atuais. Analisar como se configurou o processo de desterritorialização em que os Tuxá foram submetidos, incide em saber a quem realmente interessava esse desenvolvimento nacional e que tipo de politica territorial estava em jogo. Além disso, poucos são as pesquisas em relação ao modo como esses indígenas foram atingidos e como reagiram às intervenções e ao plano de desocupação, que é no cerne desse problema que situamos nesse estudo.